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Monitoramento animal: o caminho para maximizar resultados na fazenda de cria Nelore

  • Aluizio Ribeiro
  • 20 de ago.
  • 6 min de leitura

Em um mercado de margens apertadas e exigências crescentes de qualidade, sanidade e rastreabilidade, o monitoramento animal deixou de ser tendência para se tornar infraestrutura de gestão. Na pecuária de cria — especialmente em fazendas Nelore voltadas à produção de bezerros para abastecer outras propriedades — medir com precisão reprodução, sanidade e desempenho é o diferencial entre “criar bezerros” e “produzir lucro recorrente”. É hora de tratar dados como insumo: sem eles, decisões estratégicas viram aposta.


Dezenas de bois e vacas nelore em pasto aberto e verde, com árvores ao fundo, dispostas como se fosse um paredão verde
Monitoramento de produção de gado nelore

Por que monitorar produção de gado Nelore (e por que agora)

O Brasil opera um dos maiores rebanhos comerciais do mundo — estimado em 197 milhões de cabeças em 2023, com forte avanço de produtividade nas últimas décadas. Nesse universo, a raça Nelore sustenta a base da produção de corte, dominando algo próximo de 80% do rebanho de corte nacional. Para quem vive da cria, isso se traduz em escala, mas também em responsabilidade: cada ponto percentual a mais em prenhez, desmama ou redução de mortalidade impacta centenas de bezerros por safra.


O cenário regulatório e de mercado também empurra na direção do controle fino. O SISBOV (Sistema Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos) oferece a espinha dorsal para identificação e rastreio do nascimento ao abate, e o governo vem redesenhando a política nacional de rastreabilidade para ampliar acesso a mercados e reforçar a sanidade, com implementação gradual e foco na gestão produtiva. Em outras palavras: monitorar não é apenas questão de eficiência; é passaporte comercial.


O que medir numa fazenda de cria que vende bezerros

Em operação de cria, os indicadores que movem a agulha formam um tripé: reprodução, desempenho do bezerro e sanidade/bem-estar. A partir deles, desdobram-se métricas de “sala de máquinas”:


  • Reprodução:

    • Taxa de prenhez por estação e por método (monta natural vs. IATF);

    • Intervalo entre partos e distribuição de partos;

    • Idade à puberdade e taxa de retorno.Em sistemas de corte, a IATF se consolidou como ferramenta para estreitar estação e antecipar partos. Estudos recentes apontam taxas médias esperadas de 45–50% por protocolo, com ganhos cumulativos quando se aplicam re-sincronizações bem desenhadas — há resultados cumulativos acima de 70% combinando primeira e segunda IATF dentro da mesma estação.

    A inovação não parou: indutores de ovulação desenvolvidos no Brasil reportam acréscimo de ~9% em vacas prenhas na IATF, num momento em que a biotecnologia reprodutiva busca escala com custo competitivo. Para a fazenda que vende bezerros, elevar prenhez no mesmo calendário significa mais cria disponível, mais lote homogêneo e melhor negociação.

  • Desempenho do bezerro:

    • Taxa de desmama (bezerros desmamados por 100 vacas expostas);

    • Peso à desmama e GMD (ganho médio diário);

    • Mortalidade pré e pós-desmama.É aqui que o monitoramento conversa com o desenho nutricional e de manejo. Desmama precoce — quando bem planejada — pode elevar a prenhez em mais de 20 pontos sem prejuízo de ganho de peso do bezerro, ao aliviar a pressão sobre as matrizes e recuperar escore corporal antes da próxima estação. Além disso, análises econômicas indicam ROI de 1,81 quando a suplementação estratégica sustenta o desempenho na separação antecipada, com incremento de ~16,8 p.p. na taxa de desmama — números que, em escala, pagam o investimento.

    O efeito sistêmico aparece também quando se integra manejo de pastagens: em comparativos de sistemas, taxa de desmama pode saltar de 54% para 78% ao recuperar pastagens e adotar integração lavoura-pecuária, com ganhos correlatos em peso à desmama e queda de mortalidade. Monitorar a resposta do rebanho a esse pacote técnico é o que separa modismo de resultado.

  • Sanidade e bem-estar:

    • Temperatura corporal, ruminação/atividade, score de tosa de carrapato, escorre de condição corporal (ECC);

    • Calendário vacinal e incidência de enfermidades (diarreias, pneumonias, hemoparasitoses).Há avanços práticos de monitoramento em tempo real: sensores em colares e em canal auditivo já permitem acompanhar atividade, cio e temperatura — um biomarcador precoce de infecção, inflamação e estresse térmico. Alertas remotos reduzem o tempo entre o início do problema e a intervenção, o que, na cria, é a diferença entre um bezerro salvo e uma perda que custará todo o ciclo.


Tecnologia a favor da cria: do simples ao sofisticado

A boa notícia é que “monitorar” não exige começar por soluções caras. O degrau 1 é disciplinar os registros: caderno e planilha viram painel de bordo quando organizados por lote, categoria e data. Embrapa reforça que o registro consistente é o primeiro filtro para descartar improdutivos e identificar gargalos — uma premissa que muitos saltam em direção a gadgets.


No degrau 2, entra a pecuária de precisão:

  • Sensores de atividade/ruminação em colares ajudam na detecção de cio (críticas para IATF eficiente) e no alerta precoce de anorexia ou lameness;

  • Sensores de temperatura no ouvido trazem medidas contínuas, úteis para diagnóstico e bem-estar;

  • Balanças automáticas no cocho e portais de pesagem (quando disponíveis) geram curvas de crescimento por indivíduo;

  • Drones já foram validados para detecção e contagem de gado em pasto, economizando tempo e ampliando a segurança no manejo em grandes áreas. Num país continental, um voo de 15 minutos evita horas de cavalo e quadriciclo.


No degrau 3, a rastreabilidade individual integra tudo isso em identificação eletrônica, eventos de manejo e histórico sanitário, alinhando a fazenda às exigências de clientes e indústrias. O redesenho da política nacional de rastreabilidade e as propostas da CNA para um sistema individual facilitam a adesão com foco em ganhos de gestão — não apenas em burocracia. Para quem vende bezerros, entregar lotes rastreados, vacinados e pesados aumenta liquidez e mantém clientes.


O que muda no dia a dia (e no bolso)

Opinião: a fazenda de cria que não trabalha com metas claras de prenhez, desmama e mortalidade está, na prática, terceirizando o resultado financeiro para o acaso climático. O monitoramento oferece três alavancas concretas:

  1. Antecipação de decisões.

    Se a curva de ECC das matrizes cai no terço final da gestação, a suplementação entra antes do parto, não depois da perda de peso — o que evita atraso na ciclicidade e sustenta a taxa de prenhez subsequente. A relação entre escore corporal e fertilidade é conhecida; medir é o que permite agir.

  2. Calendário reprodutivo eficiente.

    Com IATF bem gerida e re-sincronização de vazias, a fazenda concentra partos, padroniza lotes e eleva a taxa cumulativa na mesma estação. Há protocolos validados e resultados sólidos que colocam 70%+ como objetivo factível em sistemas organizados. O ganho é técnico e comercial: lotes homogêneos valem mais.

  3. Redução de perdas “invisíveis”.

    Febres discretas em bezerros no pós-chuva, diarreias iniciais, anaplasmose em surto silencioso — temperatura e atividade ajudam a cortar o tempo de resposta. O custo do sensor se dilui na queda de mortalidade e no peso extra à desmama que chega ao comprador.


Roteiro de adoção em 4 passos

  1. Arrumar a casa dos dados (30 dias).

    • Defina KPIs: taxa de prenhez por categoria, taxa de retorno, distribuição de partos, taxa de desmama, mortalidade pré e pós-desmama, peso à desmama, ECC médio, incidência de enfermidades e carrapatos.

    • Padronize identificação (brinco visual hoje, EID amanhã) e datas (cobertura, parto, desmama).

    • Implemente rotinas semanais de leitura e uma ata por estação reprodutiva.

  2. Amarrar reprodução ao calendário (60–90 dias).

    • Escolha protocolo de IATF com assistência técnica e monitore a prenhez por diagnóstico precoce (ultrassom).

    • Considere re-sincronização para vazias; o ganho cumulativo é real.

    • Selecione novilhas +Precoce (há protocolos específicos para Nelore) para reduzir idade ao primeiro parto e ampliar bezerros por vida útil.

  3. Nutrição e desmama orientadas por dado (safra corrente).

    • Planeje desmama precoce quando matriz estiver “apertada” em ECC ou quando o pasto não suportar dupla exigência;

    • suplementação estratégica para sustentar GMD e, se possível, mensure com pesagens periódicas;

    • Acompanhe o ROI: resultados mostram retorno positivo quando o manejo é coerente com a realidade da fazenda.

  4. Tecnologia de precisão com foco em gargalos (12 meses).

    • Se a dor é detecção de cio, priorize sensores de atividade;

    • Se a dor é sanidade de bezerros, pilotos com sensor de temperatura valem mais;

    • Em áreas extensas, drones para contagem/localização economizam mão de obra e melhoram segurança;

    • Evolua para rastreabilidade em linha com o SISBOV/PNIB para capturar prêmios e abrir mercados.


Quanto vale o dado certo

Se números falam mais alto que slogans, vale lembrar três mensagens do campo e da literatura técnica recente:

  • Taxa de prenhez média esperada na IATF gira em 45–50%, mas protocolos com re-sincronização bem executados batem ~70% cumulativos na mesma estação. Em cria comercial, isso representa dezenas de bezerros a mais por 100 vacas expostas.

  • Desmama precoce aumenta prenhez >20 p.p. e, com suplementação inteligente, entrega ROI positivo e elevação da taxa de desmama — o indicador que mais dói no caixa de quem vive de vender bezerros.

  • Monitoramento remoto (atividade/temperatura) encurta o tempo de resposta em sanidade e reprodução, reduzindo perdas “pequenas” que, somadas, decidem o resultado do ano. Dado contínuo é seguro contra autoengano.


Conclusão: monitorar é produzir previsibilidade

Quem vende bezerro vende previsibilidade para a recria e a engorda de terceiros. Fornecer lotes numerosos, padronizados, saudáveis e rastreados faz da fazenda de cria uma parceira estratégica do comprador — e essa relação se constrói com dado, não com impressões. O Brasil tem a genética (Nelore), a ciência (Embrapa, universidades, setor privado) e a escala para fazer isso de forma competitiva. Agora, o passo é operacional: métricas claras, protocolos disciplinados e tecnologia aplicável ao problema certo.

Monitorar, portanto, não é vigiar. É dirigir a fazenda com farol alto: ver antes, decidir melhor e capturar valor onde a maioria ainda enxerga custo. Para a cria Nelore que abastece outras fazendas, essa é a diferença entre participar do mercado e liderar a prateleira.

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